Pufismos, 2000
O trabalho aqui apresentado nesta mostra, ainda enquanto estudante universitário, traduz a pesquisa/estudo realizado ao longo do ano lectivo. A introdução do tecido “enchido”, escultura “mole”, enquanto objecto de partilha. Puf (ismo), é uma extensão do corpo performativo.
O jogo é uma componente activa e sempre presente em toda a performance. É através desta componente lúdica que se estabelece a primeira aproximação entre os intervenientes directos na performance: os intérpretes e o público, e é também através do componente jogo que ambos os intervenientes do espectáculo aceitam estar implícito que, como no jogo, não preciso de cada vez que se inicia um espectáculo recomeçar tudo de novo. Pois há dados anteriores a ter em conta no início de cada jogo e alguns desses dados estabelecem como princípio de participação que tudo o que é jogado pode ser repetido, ao contrário do acontecimento, do acaso natural, e que também as regras são flexíveis, bastando para tal que todos aceitem estar de acordo.
É esta a condição de aceitabilidade comum que permite que cada obra e, inclusivamente, cada versão de uma obra possam constituir uma mais valia de conhecimento que não obstrói ludicidades. Deste modo, e tomando em linha de conta o meu trabalho, onde esta componente está muito presente, o espectador é em si mesmo o interveniente-performer do jogo-obra.
As peças possuem um carácter persuasivo em relação ao público, criam uma mobilidade permanente por parte de quem as observa, esse mecanismo de manipulação ‘visual’ aproxima as componentes lúdicas próprias do jogo, que produzem, inclusivamente, a introdução do mecanismo de provocação aleatório nas artes performativas.
São continuidades orgânicas do corpo, com entradas e saídas, produzem e exibem relações de semelhança com o nosso próprio corpo.
O corpo é exposto na totalidade da sua presença, próximo da exposição da carne pela qual se aproxima da visibilidade do interior do próprio corpo, antigo desejo daqueles que, como fisionomistas, sempre tentaram encontrar o âmago do corpo.
Ricardo Almeida, 2000
Exposição PUFISMOS, 2000. ESAD:CR